Inflamação da gengiva também dificulta a absorção de insulina, podendo causar uma descompensação glicêmica nos portadores de diabetes.
A diabetes, doença caracterizada pelo aumento da glicose no sangue, afeta mais de 8% da população brasileira, segundo a última pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde. Diante deste cenário, os profissionais da área estão cada vez mais alertas para identificar e tratar pessoas com o problema, incluindo o Cirurgião-Dentista.
De acordo com a literatura médica, pacientes com diabetes têm alto risco de desenvolver problemas bucais por conta do descontrole da glicemia e interferência na produção salivar. Desta forma estão mais suscetíveis a infecções.
A gengivite e a periodontite, estágio mais avançado da inflamação na gengiva, inclusive com perdas ósseas, são os problemas mais comuns entre os diabéticos. “As doenças periodontais podem alterar o nível glicêmico nesses pacientes, embora essas mudanças não sejam suscetíveis apenas a diabéticos”, acrescenta a Cirurgiã-Dentista e presidente da Câmara Técnica de Pacientes com Necessidades Especiais (CT PNE) do CROSP, Adriana Zink.
A periodontite (doença periodontal) é uma infecção crônica que acomete os tecidos de proteção e sustentação do dente (gengiva, ligamento periodontal e osso). Esse processo inflamatório, se não tratado, leva à perda do osso que sustenta o dente na boca e, consequentemente, à perda do próprio dente.
A inflamação da gengiva é desencadeada por bactérias gram-negativas, que geram uma resposta inflamatória que pode influenciar diversas condições sistêmicas. Isso faz com que a periodontite seja considerada a sexta complicação clássica do diabetes.
A interação entre o diabetes e a periodontite ocorre em uma ação bidirecional. Alterações na resposta do hospedeiro, na vascularização periodontal e nos níveis glicêmicos do fluido sulcular gengival facilitam a instalação ou alteram o curso da doença periodontal em diabéticos. Por outro lado, a inflamação da gengiva também dificulta a absorção de insulina, podendo causar uma descompensação glicêmica nos portadores de diabetes.
Apesar das evidências científicas dessa forte relação, existe uma carência de informação sobre o assunto, apontando a necessidade de maior integração entre o periodontista e a equipe médica.
Estudos epidemiológicos apontam que a grande maioria dos diabéticos desconhece a relação existente entre as duas doenças e também não é acompanhada por um periodontista regularmente. Ocorre que, sendo um problema silencioso, sem sintomatologia dolorosa, a periodontite, quando é enfim diagnosticada, já se encontra em fase avançada, apresentando mobilidade e perda dentária.
O tratamento periodontal curativo e preventivo pode evitar que o paciente diabético venha a perder dentes e, além disso, pode garantir um melhor controle metabólico. Por isso a importância do encaminhamento do paciente para avaliação periodontal tão logo seja diagnosticado o diabetes.
Conclui-se, diante do exposto, que é altamente recomendado que o dentista faça parte da equipe multidisciplinar responsável pelo acompanhamento dos pacientes diabéticos. Dessa forma, é possível reduzir as complicações periodontais e outras manifestações bucais associadas à doença, proporcionando melhor qualidade de vida a esses pacientes.
Referências Bibliográficas
Dra. Elisa Grillo Araújo
- BRUNETTI MC. Periodontia Médica: Uma Abordagem Integrada. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2004.
- LITTLE W. J. et al. Manejo Odontológico do Paciente Clinicamente Comprometido. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
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